quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Jequitinhonha em Belmonte


“O rio e o vale, o vale e o rio

Jequitinhonha, tu és Brasil”.

(O rio e o vale - Luciano Camargo)

O Rio Jequitinhonha nasce na cordilheira do Espinhaço, na serra da Pedra Redonda, em Milho Verde, lugarejo próximo da cidade de Serro - MG, banha o nordeste mineiro e ruma para o sul da Bahia e deságua no Oceano Atlântico na cidade de Belmonte, depois de percorrer cerca de 1.090 quilômetros.

O Jequitinhonha é naturalmente dividido em duas partes: rio de pedra e rio de areia, podendo se subdividir a primeira parte em quatro seções: a primeira parte, das suas nascentes até a confluência do Rio Araçuaí, no lugar nominado “Pontal”; a segunda, daí até o município de Jequitinhonha, na Pedra do Bode; a terceira, daí até a Pedra do Italiano, ponto de divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia; a quarta, daí até Cachoeirinha, onde começa o rio de areia.
Outros nomes:

Como todos os rios que atravessam regiões distintas e fronteiras políticas, o Jequitinhonha seguiu uma direção histórica traçada pela natureza, recebendo diversos nomes, ora de origem histórica, ora de origem toponímica, tais como:Massangano, Rio das Pedras, Rio da Areia, Jequitinhonha do Campo, Jequitinhonha das Matas, Rio Encantado, Rio Grande, Giquiteon, Jequié-tinhong, Patixá, Yiki-tinhonhe, Gacutinhonha, Igiquitinhonha, Gequitinhonha, Giquitinhonha, Jacutinhonha, Jiquitinhonha, Rio Grande de Belmonte, para finalmente receber o nome que traz hoje.

Lendas e significados:

Muito se diz do significado da palavra Jequitinhonha. Segundo Teodoro Sampaio em “O Tupi na Geografia Nacional”, é provável que o termo provenha da língua dos botocudos, significando ”rugido de onça”. Alguns pesquisadores afirmam que Jequi significa “cheio de peixe” e tinhonha, “rio largo”. Outros afirmam que yiki-tinhonhe significa o jequi mergulhado ou assentado n’água.
No entanto, um dos significados mais interessantes vem de uma lenda que diz que a palavra Jequitinhonha tem sua origem na língua tupi-guarani: "jequi" é armadilha ainda muito usada na região até hoje, em forma de um "puçá" (pequena rede de pesca, em forma de cone curto, presa a um aro circular de madeira munido de cabo, utilizada pelos índios brasileiros para pegar peixes miúdos), para pegar peixe, que os índios chamavam de "onha". Diz a lenda que o pai, morador das barrancas do rio, armava o jequi no rio ao entardecer e na manhã do dia seguinte, pedia ao filho: "vai menino, corre lá no rio e veja se no jequi tem onha.
Vida e habitat

Durante suas cheias, as águas carregadas de argila avançam sobre as margens, formando terrenos sedimentares. Esses solos úmidos, de textura muito fina e avermelhada, formam um perfeito habitat para o guaiamu ou goiamum, uma espécie de caranguejo, o que faz de Belmonte um exportador dessa iguaria e como não era para menos, leva uma fama de "Capital do guaiamum" . Mas não é só o guaiamum que habita por aqui, infinidades de espécies moram coletivamente nessa natureza barrenta como os aratus, caranguejos, ostras, siris, camarões, lambretas, mexilhões, peixes variados e uma enorme diversidade de aves convivendo harmonicamente.
Viver junto ao rio foi um privilégio que desfrutamos durante 17 dias. Ao acordar, de manhã cedo, víamos  na maré cheia, as  primeiras  canoas com  pescadores remando rio acima.
 
A maneira mais rápida de sair da cidade é através do rio, mas isso depende da subida da maré. Como estamos hospedados em uma pousada em frente ao rio, observo que os habitantes da cidade têm a rotina controlada pelo movimento das marés. As lanchas que nos conduzem até Canavieiras só deixam o cais até umas 8 horas da manhã. Em geral, depois desse horário o rio baixa consideravelmente, e começa a aparecer a areia do fundo, inviabilizando a navegação.
É nessa hora que os pássaros se fartam, buscando os pequenos moluscos que ficam sobre a areia.
O poeta Sosígenes Costa ( Belmonte,1901-Rio de Janeiro,1968), escreveu este poema sobre o Jequitinhonha:
E Romãozinho passou pela Bolandeira, cantando:

— Dom Pedro disse a Totonha
sentado naquele beco
que este rio Jequitinhonha
é o rio do estrume seco.
Dom Pedro não era peco.
Dom Pedro disse a Totonha,
Totonha disse a Pacheco.
Pacheco disse a Badico,
o burro contou à vaca,
a besta disse à perua
e a coisa saiu do beco
e se espalhou pela rua.
Este rio Jequitinhonha
é o rio do estrume seco.
Quem me disse foi Joana
que mora com seu Pacheco.
Você viu a caipora?
Não podemos ver a caipora, mas vemos cenas lindas na beira do rio, como esta menina banhando-se, feliz, ao cair da tarde.











Chegam turistas
O jet-ski encalha no banco de areia e dá um trabalhão ...           







O Jequitinhonha nos brinda com um belo espetáculo ao cair da tarde.



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