sexta-feira, 17 de junho de 2011

Visita à Comunidade de Campinhos


No sábado, 4 de junho, após terminarmos nossas atividades, almoçamos  e nos dirigimos para o cais à beira do rio Pardo, onde nos esperava uma pequena lancha que nos levaria à Comunidade de Campinhos.
“Seu” João e Fábio  nos recebem no barco. Iniciamos a viagem, que dura cerca de 40 minutos .










Este é o Fábio, líder pescador também.
“seu” João me entrega  o colete salva-vidas, pois eu não viajo de barco sem colete, como eles.
A paisagem é linda durante todo o percurso, variando entre os manguezais e sítios com plantações de coqueiros.
Em certos locais a vegetação é tão densa que quase toca nossas  cabeças ao passarmos.
As raízes das árvores dos manguezais saltam  das águas do rio e nos oferece um espetáculo de beleza incomum. É nesse local que os moradores pescam guanhamum, siri, caranguejo, marisco  para o sustento  de suas famílias.







Ricardo, nosso ”fiel escudeiro” , a princípio não se sente muito seguro e agarra-se às bordas do barco, com medo de cair na água.

As mulheres parecem mais corajosas...
Nosso amigo, “ seu”  João, conduz o barco e Solange, confiante diz “ Olhem! Sem as mãos!”

Todo  mundo já mais confiante,  arrisca se virar e posar para as fotos.

Quando nos aproximamos do delta do rio, o encontro  do Pardo com o Atlântico provoca uma certa agitação nas águas e lá longe, podemos distinguir as ondas  do mar.

Enfim, chegamos à Comunidade de Campinhos, onde mora “seu” João e toda a sua família. A região é dividida em pequenos lotes de terra onde vivem cerca de 50 famílias. Quase todos são irmãos , filhos , netos, e sobrinhos  do “seu” João, cujo o pai, recentemente  falecido,  com 90 anos, viveu e criou os filhos naquele mesmo local. O pai do “ seu “ João  chegou em Campinhos  há mais de 50 anos e, após a sua morte, a terra foi dividida entre os mais de 15 filhos que deixou. Todos em Campinhos vivem da pesca. São pessoas muito humildes  que nos recebem com um carinho singular.
A mangueira secular nos dá boas vindas assim que descemos do  barco e pisamos em terra firme.  Dois grandes troncos sob a mangueira servem de bancos  para os visitantes. “Seu” João é o líder comunitário da região e me explica que muitas vezes realiza as reuniões dos moradores  naquele  local, onde as pessoas tomam assento  nesses troncos.
Aproveito o momento para registrar em fotografia esta obra prima da natureza, convidando meus companheiros a se sentarem  sob a sombra da velha e imponente “senhora”.
“Seu” João me mostra a casa de seus pais, onde ele viveu sua infância e juventude. É uma humilde choupana de madeira  que ainda se mantém de pé, ao lado da margem do rio, em frente à mangueira. Ele conta que até há bem pouco tempo as casas da Comunidade eram todas de madeira e anteriormente eram ainda mais frágeis, pois a palha dos coqueiros da região servia de matéria prima para a construção  das moradias de todos eles.
“Seu” João segue na frente , nos conduzindo  pela comunidade.
Vamos conversando sobre a situação dos moradores  do local e “seu” João, com muito orgulho  nos conta que , depois de muita luta, a associação de moradores de Campinhos, presidida por ele, conseguiu, recentemente,  com o governo federal a construção de casas de alvenaria para uma parte das famílias que moram na comunidade. São casas pequenas, de dois quartos, sala, cozinha e banheiro, que oferecem um conforto excepcional para pessoas que antes moravam em casas de madeira e palha de coqueiro.  À medida que as casas vão sendo construídas  as famílias vão tomando posse das mesmas, sem que tenham que pagar qualquer quantia por elas. 

Seguimos  caminhando pelo povoado, sempre guiados por “seu” João e Fábio,  enquanto  os dois nos contam das dificuldades que o povo desta comunidade passa e das conquistas que vem conseguindo, a partir da união cada vez maior dos moradores na reivindicação  de seus direitos .
Campinhos é uma das 6 comunidades que formam a Reserva Extrativista de Canavieiras. A RESEX foi criada em 2006 e atua como um instrumento de luta para garantir os recursos naturais e a terra para os extrativistas que vivem na  chamada costa do cacau.
Nosso guia vai nos levando até as casas de algumas irmãs. Encontramos uma delas sentada no quintal fazendo a limpeza dos caranguejos e siris que acabou de pescar.
Vemos coisas incríveis, como estes caranguejos que vivem confinados em um canto do quintal, sendo alimentados com grãos de milho, como se faz em galinheiros!
Mais adiante, durante nossa caminhada, encontramos esta outra senhora que vem chegando do mangue, trazendo nesta vasilha azul o produto de sua coleta.
São siris graúdos, que ela pega com as  mãos para nos mostrar.
“Seu” João, além de pescador, é grande conhecedor  da flora local e durante a nossa caminhada vai nos apresentando às plantas que encontra e nos explicando o potencial medicinal de algumas delas.
Solange vai provando tudo o que ele oferece. Quer saber o gosto de cada uma das frutas e se surpreende com o azedume da biribiri. Esta pequena fruta é usada como tempero de peixes e moluscos.
Fábio ri quando ela reclama com “seu” João do azedume do biribiri.
O cacau, responsável pela riqueza daquela região até que as plantações foram devastadas com a chegada da “vassoura de bruxa” , é cultivado em alguns quintais, mas, apenas para consumo da família.
O dendê é o fruto da palma, uma das riquezas da região .
 

                                                                       





Algumas famílias, embora já residindo na casa nova, de alvenaria, ainda mantem o barraco de madeira no quintal.

No caminho encontro com esses dois meninos montando uma arapuca . Eu pergunto a eles  como têm coragem de caçar os passarinhos  e eles me explicam que estão armando a arapuca para prender uma galinha. Não sei se estão me dizendo a verdade...
Noto que embora as casas sejam todas exatamente  iguais , os moradores vão imprimindo a sua personalidade a cada uma delas, pintando-as de cores diferentes do rosa convencional  e até trazendo peças do mobiliário para a parte externa da casa.
Vamos encontrando muitas crianças durante o passeio e algumas seguem nos acompanhando, correndo  na nossa frente  se exibindo ,plantando bananeira, rolando no chão de areia.
Juliene é neta do “seu” João. Ela nos acompanha durante todo o tempo
As crianças de Campinhos são, inicialmente,  tímidas mas logo que vão tomando intimidade conosco vão se mostrando falantes, alegres e muito bem educadas.
Somos levados a conhecer a escola, que está fechada por ser sábado. As duas professoras que dão aula na escola Santa Lúcia já estiveram nos visitando na exposição com uma parte dos alunos e combinaram de voltar com os outros que não puderam ir por causa da lotação na lancha.
Consegui na Secretaria de Educação uma fotografia  da escola antes da nova construção em alvenaria. Ela funcionava neste casebre de madeira e durante a gestão da atual Secretária de Educação de Canavieiras, professora Genita, foi substituída por esta boa  casa de alvenaria, um enorme ganho para os alunos e as professoras.

Já são mais de4 horas da tarde e é hora de deixarmos o paraíso em que vive nosso  anfitrião.
“seu” João fica na beira do rio com a netinha Juliene.
Fábio será nosso condutor na viagem de volta à Canavieiras e vai se encaminhando para a margem do rio, onde o barco nos aguarda.

A tarde já começa a pintar a paisagem com cores mais intensas .
As aves voam baixo, buscando abrigo nas árvores do manguezal.

E nós teremos o privilégio  de acompanhar o por do sol magnífico, no rio Pardo.

A maré está bastante alta e ao nos aproximarmos do delta somos surpreendidos por ondas fortes, que nos molham bastante.
Estamos chegando em Canavieiras.
Iemanjá nos recebe de costas, mas ainda assim nos sentimos saudados  pelo casario antigo da cidade.
Passamos um dia inesquecível na Comunidade de Campinhos. Obrigada “ seu” João por nos ter levado até o seu paraíso, onde pudemos conhecer mulheres batalhadoras, que buscam o sustento de suas famílias pescando mariscos no rio; onde pudemos ver como se vive feliz, ainda que com tão pouco; onde vimos também que a solidariedade é a maior riqueza entre os moradores desta  Comunidade. E, então, me vem à lembrança a linda música do Chico Buarque , “ Gente Humilde”:

...E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar.
...E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar.
Nossa equipe( Solange, Néia e Nériton) junto com ”seu” João e a netinha Juliene.


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